Intergeracionalidade

Conhecimento: Um Dom da Idade ou da Dedicação?

O conhecimento é um dos pilares fundamentais que sustenta a evolução da humanidade. Ao longo dos séculos, a busca por saberes tem sido uma constante, mas a fonte desse conhecimento muitas vezes é questionada, tal como se percebe atualmente nas redes sociais onde o falso conhecimento é facilmente partilhado.

Será a idade cronológica um fator determinante na aquisição de conhecimento, ou serão o esforço e a dedicação os verdadeiros alicerces?

Esta breve reflexão é sobre a relação entre idade, experiência e aprendizagem, abordando a «crença» de que o “mais velho sabe mais“!

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A Idade como acumuladora de vivências

A idade cronológica é frequentemente vista como um indicador de experiência e sabedoria. Por isso, a «crença» de que o “mais velho sabe mais” está profundamente enraizada em muitas culturas, onde os anciãos são respeitados e considerados fontes de conhecimento, até porque com o passar dos anos uma pessoa acumula vivências que podem enriquecer a sua compreensão do mundo. As experiências vividas proporcionam uma perspetiva única que pode ser extremamente valiosa.

No entanto, é importante reconhecer que a experiência não é sinónimo de conhecimento absoluto. Embora a idade implique uma bagagem de vivências, ela não garante necessariamente uma compreensão profunda ou atualizada sobre todos os assuntos. O conhecimento é dinâmico e está em constante evolução, e, muitas vezes, é necessário um esforço contínuo para se manter atualizado, razão pela qual a aprendizagem ao longo da vida é fundamental.

Estudo e aprendizagem: A verdadeira fonte de saber

O esforço e a dedicação ao estudo são, sem dúvida, pilares essenciais na construção do conhecimento. Por isso, a aprendizagem contínua permite que pessoas de todas as idades adquiram novos saberes e habilidades, independentemente da sua idade cronológica. Num mundo em constante mudança, onde novas informações e tecnologias emergem diariamente, o compromisso com a aprendizagem é crucial e as pessoas mais velhas não o podem nem devem ignorar.

Estudos mostram que a prática deliberada e a dedicação ao estudo são fatores determinantes para a aquisição de conhecimento profundo e duradouro. A neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se adaptar e formar novas conexões, não se limita a uma idade específica. Pessoas de todas as idades podem aprender e se desenvolver, desde que estejam dispostos a investir tempo e esforço.

A arrogância do idadismo

O idadismo, ou preconceito baseado na idade, pode ser uma barreira significativa para a aprendizagem e a troca de conhecimento. A crença de que a idade cronológica é o único indicador de sabedoria pode levar à subvalorização das contribuições de pessoas mais jovens, que também têm muito a oferecer, criando barreiras intergeracionais claramente nefastas. Além disso, essa mentalidade pode desencorajar as pessoas mais velhas a procurarem novas oportunidades de aprendizagem, perpetuando a ideia de que esta é exclusiva dos jovens. A «economia grisalha», para a qual as pessoas mais velhas podem contribuir como produtoras e consumidoras e que será cada vez mais importante com o envelhecimento da população, ficará claramente enfraquecida com pessoas que a partir de certa idade consideram que já sabem tudo!

É fundamental reconhecer que cada pessoa, independentemente da sua idade, tem a capacidade de contribuir para o conhecimento coletivo. A diversidade de experiências e perspetivas é o que enriquece o conhecimento humano e impulsiona o progresso.

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Desafiar «crenças»

Em última análise, o conhecimento não é um dom exclusivo da idade ou da dedicação, mas sim uma combinação de ambos. A idade cronológica pode trazer experiência e perspetiva, mas é o esforço contínuo e a dedicação à aprendizagem que realmente moldam o conhecimento.

Desafiar a «crença» de que o “mais velho sabe mais” e promover uma cultura de aprendizagem ao longo da vida são passos essenciais para uma sociedade mais inclusiva e informada, também uma das minhas lutas no domínio da Gerontologia.

Lembrem-se que o verdadeiro conhecimento é acessível a todas as pessoas, desde que haja disposição para aprender e crescer, o que é independente de qualquer idade!

Olá, sou Raul Jorge Marques

Geógrafo. Mestre em Geografia Humana - Desenvolvimento Regional. Curso de Sensibilização em Gestão e Inovação Organizacional da Empresa. Pós-graduado em Gerontologia Social e em Gerontologia Clínica. Consultor independente em Desenvolvimento Local/Regional, Prospetiva Estratégica Territorial e Gerontologia. Coordenador Científico do Grupo de Trabalho Envelhecimento Ativo e Desenvolvimento Local da ANIMAR.