Envelhecimento ativo: porque é tão importante?
Este artigo retoma o projeto de investigação “Envelhecimento Ativo e Desenvolvimento Local”, desenvolvido em 2019. Desde esse período, temos cruzado as áreas da Gerontologia e da Geografia, procurando aprofundar preocupações partilhadas ao longo de duas décadas de trabalho em territórios de baixa densidade. Com isso, estabelecemos uma abordagem intersetorial e integrada.
Gerontologia & Geografia: uma aliança estratégica
Iniciámos a nossa atividade de investigação no final dos anos 90, sempre com foco nas pessoas. Mais tarde, a ligação entre Gerontologia e Geografia ganhou força, sobretudo a partir de 2017, quando culminou neste projeto. Após uma formação intensiva em Gerontologia Social, delineámos novos caminhos.
Pessoas mais velhas ativas, territórios dinâmicos: novas perspetivas
Atualmente, questionamo-nos: de que forma o envelhecimento ativo contribui para revitalizar os territórios? Além disso, como atuam, a nível local e regional, os serviços dedicados às pessoas mais velhas? Também importa saber como estão as pessoas mais velhas a ser envolvidos no desenho de estratégias que as afetam diretamente. Simultaneamente, refletimos sobre novos modelos como as “aldeias de bem-estar” e o cohousing, que favorecem a intergeracionalidade.
Naturalmente, não pretendemos responder a todas estas questões neste artigo. Em vez disso, usamo-las como guias no nosso diálogo entre a Gerontologia Social e a Geografia do Envelhecimento.
Como analisámos 25 municípios portugueses
O estudo de caso baseia-se numa análise de conteúdo das estratégias de envelhecimento ativo de 25 municípios portugueses. A amostra foi selecionada de forma aleatória, considerando a distribuição por Comunidade Intermunicipal.
Municípios para Análise das Estratégias de Envelhecimento Ativo

Fontes :
- Lei 75/2013. Estabelece o regime jurídico das autarquias locais, aprova o estatuto das entidades intermunicipais, estabelece o regime jurídico da transferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico. Diário da República, 1.ª série — N.º 176 — 12 de setembro de 2013.
- https://www.pordata.pt/Municipios/População+residente+do+sexo+masculino++estimativas+a+31+de+Dezembro+total+e+por+grupo+etário-138-540
A «Fé» ao serviço do envelhecimento: o que se pensa que as pessoas mais velhas querem, sem lhes perguntar!
É extremamente irritante observar pessoas que presumem saber o que os outros desejam ou necessitam sem sequer questioná-los, impondo, assim, a sua própria visão — geralmente marcada por uma lógica de poder. Consequentemente, enquanto formador, enfatizo aos técnicos e técnicas a importância de estabelecer parcerias genuínas com aqueles com quem trabalham na concepção das estratégias. Dessa maneira, promove-se um diálogo construtivo que enriquece a elaboração de soluções mais inclusivas e eficazes.
Estratégias de envelhecimento ativo: oferta diversificada
A pesquisa das estratégias de envelhecimento ativo propostas em cada um dos municípios selecionados foi efetuada entre 24 e 28 de maio de 2019, cruzando-se as palavras-chave “envelhecimento ativo + nome do município”.
Em 9 (36%) dos 25 municípios selecionados não se encontraram referências a estratégias promotoras de envelhecimento ativo, respetivamente, municípios de Chaves, Póvoa do Varzim, São Roque do Pico, Santiago do Cacém, Seixal, Sever do Vouga, Tabuaço, Tomar, Vila do Bispo.
Da análise às estratégias municipais evidencia-se um foco claro na saúde e no exercício físico. Contudo, há uma proposta diversificada de atividades, distribuídas por diferentes domínios:
- Atividades físicas: caminhada, dança, estimulação motora e cognitiva, expressão corporal e artística, ginástica, hidroginástica, yoga;
- Atividades lúdicas: jogos de grupo, jogos de tabuleiro, jogos tradicionais, leitura e debate livre, música, passeios e rotas culturais, patrimoniais e religiosas;
- Participação: com comunidades e espaços diferentes, na vida da comunidade, na família, cooperação/ interação com os mais jovens;
- Educação e aprendizagem ao longo da vida: academia sénior, universidades seniores, formação sobre alimentação saudável, formação/ utilização das TIC;
- Segurança: prevenção de quedas;
- Voluntariado.
Propostas que se destacam pela inovação e pelo modelo de intervenção
Ideias inovadoras que mudam vidas
Neste domínio releva-se o Plano de Desenvolvimento Social Supraconcelhio para a CIM Tâmega e Sousa 2020, em que se propõe aumentar a permanência na vida ativa dos “adultos seniores” através da “Criação da figura de guias turísticos seniores “Cicerone sénior no turismo local” ou de um “Projeto intermunicipal de empreendedorismo social 60+ (mudança de carreira ou desenvolvimento do voluntariado entre os aposentados)”.
Lourinhã: modelo participativo de referência
Na Lourinhã, o Plano Gerontológico (2016-2020) seguiu uma abordagem participativa. A estratégia partiu de um diagnóstico social, com a população a identificar problemas e soluções de forma direta.
O modelo participativo implicou 6 reuniões (focus group) que envolveram 10 entidades públicas e privadas, com inquéritos a cidadãos residentes (304 inquéritos, 115 homens e 189 mulheres). As reuniões compreenderam 3 «sessões de autodiagnóstico» e 3 «sessões com técnicos/as de serviços/ equipamentos do concelho» .
Plano Gerontológico Local: Inclusão e Bem-Estar ►
A visão do PGL da Lourinhã: trabalhar com as pessoas e para as pessoas
A Estratégia utilizada pelo município da Lourinhã tem como Visão:
“Todas as gerações acrescem valor a esta comunidade e por isso preparamo-nos devidamente para apoiar o bem-estar físico, mental e social de todos, particularmente dos mais velhos, até ao limite do seu potencial. Promoveremos e respeitaremos o compromisso dos mais velhos com a vida económica, social, cultural e familiar, estimulando a solidariedade entre as gerações. Promoveremos neste concelho a equidade, a independência, a participação, o cuidado, a autorrealização e a dignidade dos mais velhos” (PGL, 2015: 21).
Contributos do PGL da Lourinhã para uma Política Gerontológica Local
Os 4 Eixos Estratégicos que suportaram este PGL pretenderam intervir nos seguintes domínios:
- Participação local – social, cultural e económica;
- Saúde e bem-estar – física e mental
- Alojamento – envelhecer com confiança, segurança e dignidade em casa;
- Investigação -desenvolvimento de respostas inovadoras.
Todavia, este PGL, tem ainda um conjunto de propostas importantes para integrarem uma Política Gerontológica Local, facilmente transferível e de que se destaca:
i) Constituir uma Bolsa Local de Profissionais Seniores, qualificada e disponível, para colaborar em trabalhos especializados.
ii) Difundir as práticas de antiaging nos órgãos de comunicação (jornais, rádio, televisão), de forma a contribuir para uma não representação pública estereotipada do envelhecimento.
iii) Difundir uma imagem de envelhecimento ativo e de intergeracionalidade, estimuladora da partilha dos saberes e memória coletiva das gerações mais velhas.
iv) Formar a população sénior e pré-sénior em “Práticas de Antiaging”.
v) Promover a reflexão sénior sobre envelhecimento, envelhecimento ativo e antienvelhecimento, através de Ateliês Intergeracionais (Coaching Intergeracional).
Envelhecer com qualidade: caminhos para o futuro
Da análise das estratégias consultadas, conclui-se que qualquer projeto orientado para o envelhecimento — em particular o envelhecimento ativo — se enquadra facilmente nas preocupações de desenvolvimento local. Nesse sentido, é essencial prevenir as “fraturas sociais” e promover efetivamente a inclusão. Para tal, a participação dos cidadãos e cidadãs revela-se imprescindível na identificação de necessidades e problemas concretos. Além disso, importa valorizar as redes como estratégia de envolvimento e cooperação, bem como estimular abordagens de base comunitária (bottom-up), prática consolidada pelas ADL (Associações de Desenvolvimento Local) em diferentes regiões do país. Tudo isto contribui para o fortalecimento de uma dinâmica solidária entre habitantes, incluindo entre diferentes gerações.
Em síntese, reforçamos a convicção de que a articulação entre envelhecimento ativo e desenvolvimento local é fundamental, desde que assente numa participação efetiva das pessoas mais velhas. Só assim se promove o exercício pleno da cidadania, num modelo de responsabilidade partilhada na conceção das estratégias de apoio ao envelhecimento, assegurando que as pessoas mais velhas permanecem ativas, realizadas, interventivas e corresponsáveis.
Neste contexto, os Planos Gerontológicos Locais afirmam-se como instrumentos centrais das políticas gerontológicas, capazes de estruturar territórios verdadeiramente inclusivos, participativos e promotores de um envelhecimento ativo e saudável.
PLANOS GERONTOLÓGICOS – APP – Associação Portuguesa de Psicogerontologia
Por fim, e em contraste com visões sociais negativistas, preconceituosas e idadistas, rejeitamos firmemente a ideia de que o envelhecimento da população constitua um problema. Viver mais tempo é, afinal, um claro sinal de progresso civilizacional e de avanços sociais e científicos.
O verdadeiro problema, como já afirmámos noutros contextos, reside na ausência de uma visão política esclarecida e corajosa quanto à necessidade de adaptar as sociedades ao envelhecimento demográfico. É problemático que as políticas públicas tardem em responder a esta transformação estrutural. É igualmente preocupante a ausência de estímulos à renovação geracional, refletida na redução das taxas de fecundidade — consequência direta da insegurança económica, da precariedade laboral, da escassez de habitação a preços acessíveis e da falta de confiança no futuro.
Esses, sim, são os desafios concretos e urgentes. Ignorá-los pode contribuir para o crescimento de discursos populistas e para uma perigosa deriva política, com consequências nefastas para a vitalidade da democracia.
Bibliografia
IESE (2015). Plano de Desenvolvimento Social Supraconcelhio 2020 para a Comunidade Intermunicipal do Tâmega e Sousa. IESE – Instituto de Estudos Sociais e Económicos, Lisboa.
Lei 75/2013 (2013-09-12). «Estabelece o regime jurídico das autarquias locais, aprova o estatuto das entidades intermunicipais, estabelece o regime jurídico da transferência de competências do Estado para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais e aprova o regime jurídico do associativismo autárquico». Diário da República N.º 176, 1.ª Série.
MARQUES, Raul (2000). Desenvolvimento Local em Espaço Rural e Novas Competências – A Participação dos Cidadãos no Concelho de Santa Comba Dão, Centro de Estudos Geográficos, Lisboa.
MARQUES, Raul (2002). «O local enquanto espaço de afirmação cívica: uma condição para o desenvolvimento», in AAVV (2002). Olhares sobre o território e a espacialidade, Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Linha de Acção de Geografia Humana e Regional, Lisboa, pp. 57 – 72.
Plano Gerontológico do Concelho da Lourinhã 2016-2020. Município da Lourinhã, Instituto Politécnico de Leiria – Escola Superior de Saúde, julho de 2015.
Sites diversos utilizados no levantamento das Estratégias de Envelhecimento Ativo por Concelho