Introdução
Hoje em dia, ao refletir sobre a aposentação e considerando as variantes «aposentação obrigatória» e «aposentação voluntária», é evidente que nem sempre a cessação do exercício de funções em determinada entidade corresponde a um abandono da profissão. Por isso, esbatem-se os sentimentos de velhice classicamente associados à reforma, especialmente para os aposentados mais escolarizados que o mercado ainda acolhe (advogados, enfermeiros, médicos, professores) ou para os menos escolarizados, mas com especialidades de grande procura (eletricista, canalizador, pedreiro, pintor). Assim, o papel da reforma enquanto marcador normativo associado a perdas diversas é esbatido.
O papel da reforma na vida profissional
Na prática, o acesso à atribuição de uma prestação pecuniária mensal vitalícia designada por pensão, a que se tem direito ao fim de um determinado número de anos de trabalho e de descontos para ela – o direito à reforma, não implica necessariamente que se deixe de trabalhar ou que até se passe a ter mais trabalho, reformulando projetos de vida ou regressando a projetos temporariamente abandonados.
Ajustamentos na transição para a reforma
As cindo fases de ajustamentos sequenciais normalmente referidas para o processo de reforma, que acabará sempre por suceder, mas talvez a carecerem de atualização face às novas realidades existentes, são:
- Período de lua-de-mel: surge no início da reforma e é acompanhado de grande euforia, o que determina o abraçar de novos projetos que não houve oportunidade de concretizar (viajar, voltar a estudar, abraçar outros projetos profissionais, investir mais em preparação física, etc.).
- Período de descanso e relaxamento: a quebra da euforia inicial determina a entrada num momento de acalmia e de tranquilidade, mais virado para o lazer e para o relaxamento.
- Período de desencantamento: período de ponderação sobre o que o indivíduo projetou para a sua reforma e reanálise do projeto de vida devido a fatores de ordem familiar (doença ou morte do cônjuge) ou de ordem pessoal (doença).
- Período de reorientação: período de contorno e enfrentamento da nova situação, bem como de exploração de novos envolvimentos e de ajustamentos à nova realidade, o que determina reestruturação de rotinas e (re)envolvimentos sociais e familiares (temos conhecimento de situações em que o envolvimento de septuagenários na dinâmica dos ginásios permitiu criar amizades, rotinas e objetivos, beneficiando as capacidades funcionais e a saúde mental).
- Período de rotina estável e satisfatória: período que resulta das aprendizagens anteriores, no qual a pessoa mais velha mantém a vontade de participação e de sentimento de pertença à sociedade, esperando ser retribuído.